quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Pensamentos e Pensadores
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Alterações climáticas e suas consequências em espécies invasoras
Esse texto faz parte do “Blog Action Day” que é um evento anual que reune blogueiros do mundo todo postando sobre o mesmo assunto e já conta com mais de 150 países, todos com os mesmos objetivos: informar e conscientizar o mundo. São mais de 10.000 blogs cadastrados com a intençao é chamar a atenção para a brusca mudança de temperatura que afeta nosso planeta. Para acessar os blogs inscritos e ler seus textos, clique na imagem a cima. Aqui vai o nosso.
Desde a época das grandes navegações, diversos tipos de animais e plantas são retiradas de sua hábitat natural, propositalmente ou não, e são espalhadas pelo mundo. Nos dias de hoje, esse intercâmbio acontece de modo muito mais eficiente, devido ao aumento da quantidade de navios circulando e dos aviões, que espalham esses organismos de modo muito mais rápido. As consequências geradas por essas espécies em novos ambientes podem ser catastróficas. Diferentemente dos animais do filme “Madagascar”, na natureza indivíduos de espécies diferentes não se reúnem para bolar uma fuga de volta ao local de origem nem se entopem de remédios contra depressão, como a girafa Melman. O mais natural é acontecer o que se passou com o leão Alex, e a maioria deles se tornem selvagens e adaptados ao meio. Porém, existem vários fatores que podem interferir na adaptação de um ser vivo em seu novo ambiente e o fator climático é um deles.
Iniciada na primeira Revolução Industrial na Inglaterra do século XV, grandes quantidades de carbono são liberadas na atmosfera. Esse excesso, que hoje tem contribuição da queima de florestas e de combustíveis fósseis, faz com que grande quantidade de calor seja absorvida pelo planeta ocasionando o aquecimento global. Toda essa alteração climática gera modificações nos mais diversos ambientes, desde cavernas, copas de árvores e campos abertos, até frestas em solos ou ambientes marinhos. Os diversos organismos, tanto nativos quanto invasores, presentes em cada um desses locais, responderão as alterações do clima de maneira diferente.
Pensando nisso, um grupo de pesquisadores de diversas universidades americanas e da Agência Americana de Proteção Ambiental, realizaram um estudo baseado nos diversos estágios pela qual uma espécie passa num processo de invasão, identificando cinco possíveis consequências da mudança climática sobre bichos invasores.
Segundo os autores, uma espécie exótica introduzida em um ambiente natural deve passar por filtros ambientais para se tornar efetivamente invasora. Os passos, que estão ilustrados na figura ao lado, são basicamente os seguintes: primeiro, a espécie deve ser transportada através de uma barreira geográfica, como um oceano, uma cadeia de montanhas ou uma estrada, até sua nova localização. A habilidade da espécie de passar pelo estágio de transporte depende da razão pela qual os indivíduos são movidos de um lugar para outro e sua viabilidade depois de chegar ao local. Segundo, a espécie deve sobreviver e tolerar as condições ambientais no local de chegada. Terceiro, a espécie deve adquirir recursos, construir interações com inimigos naturais e possivelmente formar relações mutualísticas no novo local. Espécies invasoras que se estabelecem com mais sucesso e que, consequentemente se tornam mais abundantes, são mais prováveis de ocasionarem um maior impacto na comunidade local. Finalmente, a espécie deve se dispersar, estabelecendo populações em novos locais do novo território.
Com base nesses passos, foi especificado cinco possíveis consequências das mudanças climáticas para espécies invasoras: alteração dos mecanismos de transporte e introdução, modificação das limitações climáticas, alteração da distribuição das espécies invasoras, modificação do impacto das espécies agora existentes, e alteração na efetividade de estratégias para espécies invasoras.
Para os autores, a mudança climática pela qual o planeta passa irá, inclusive, desafiar a atual definição de espécie invasora, chegando-se a seguinte definição: espécies invasoras são aquelas que foram introduzidas em um tempo recente e exercem um substancial impacto negativo na biota nativa, nos valores econômicos ou na saúde humana. Alguns táxons que anteriormente eram considerados invasores, podem diminuir seu impacto; outros, previamente considerados não-invasores, podem se tornar invasores; e muitas espécies nativas irão trocar suas distribuições geográficas, movendo-se para áreas onde antes eram ausentes.
Com isso, percebemos que não são somente os efeitos do aquecimento global associados diretamente com aspectos econômicos e sociais que podem gerar graves conseqüências para o planeta. Todos os desastres amplamente divulgados pela mídia como a elevação do nível do mar, seca, fome, miséria e muitos outros, podem se tornar realidade caso nenhuma medida drástica seja tomada rapida e efetivamente. Porém, além desses infortúnios, a alteração climática tem seus efeitos mais sutis, afetando pequenos grupos, em pequenas áreas, mas que podem gerar grandes catástrofes caso atinjam um nível fundamental de uma cadeia. O homem faz parte dessa cadeia, e assim como começou todo o processo nas grandes navegações e na revolução industrial, pode vir a acabar como qualquer outra espécie invasora que não conseguiu se adaptar a tempo às modificações ambientais criadas por ela mesma.
Referência Bibliográfica
Hellmann et al, 2008. Five Potential Consequences of Climate Change for Invasive Species. Conservation Biology, Volume 22, No. 3, 534–543 (aqui).
Sugestão de Referência
Vieira, Cristina Girão. Espécies exóticas invasoras – breves apontamentos. Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (aqui)
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Entrevista com Fernando Fernandez
Aproveitando a ilustre presença de Fernando Fernandez na VII Semana de Biologia da UNIRIO, que ocorreu de 5 a 9 deste mês, convidamos o biólogo a dar uma exclusiva entrevista para nosso blog. Para quem não conhece, Fernandez é professor da UFRJ responsável pelo Laboratório de Ecologia e Conservação de Populações (LECP-UFRJ) que tem como linha de pesquisa a dinâmica populacional e reprodução de marsupiais e roedores da Mata Atlântica. Também é autor do livro O Poema imperfeito: crônicas de biologia, conservação da natureza e seus heróis que está em sua segunda edição pela editora UFPR. Nesta entrevista ele nos fala, entre outras coisas, sobre a extinção dos grandes mamíferos causada pelos homens e as interferências que nós causamos na manutenção dos ecossistemas.
Devaneios Biológicos: Uma questão muito bem tratada em seu livro é a extinção em massa do Pleistoceno que ocorreu devido a expansão humana pelo globo. Você poderia nos falar em linhas gerais como ocorreu esse processo e se existe alguma prova de que isso é realmente verdade?
Fernando Fernandez: Comprovado exatamente não é, mas eu diria que hoje em dia é a hipótese de longe que melhor explica os fatos. Especialmente por se ter extinções em épocas diferentes, em continentes diferentes, e tempos depois dos continentes nas ilhas. Isso corresponde muito bem a chegada do homem em cada lugar. Existe uma correlação, inclusive uma correlação no sentido estrito, estatístico, que se você cruzar em um gráfico a data da chegada do homem em cada lugar e a época da extinção, você obtém uma linha reta. A correspondência de datas é perfeita, os pontos são praticamente em cima da linha. Inclusive nas ilhas naturalmente ocorreu depois justamente porque foi onde o homem precisou de barco para chegar. No passado defendia-se uma hipótese climática e atualmente ainda há pessoas que a defendem, mas por falta de conhecimento das outras hipóteses. Mas isso tudo é bem insustentável. Por exemplo, na Austrália a extinção ocorreu claramente no interglacial. Não tem nada a ver com glaciação. Nas ilhas, em alguns casos, ocorreu dez mil anos depois do fim da última glaciação. Na própria América do Norte ocorreu depois da última glaciação que foi há 18 mil anos. A extinção da América do Norte é datada de aproximadamente 13.000 anos. Então claramente o clima não bate. Existem mamutes extintos há 3.700 anos nos Estado Unidos e a extinção de moas na nova Zelândia ocorreu há seiscentos e poucos anos, então o padrão de como as extinções ocorreram em cada lugar claramente mostra que foi devido ao homem, como uma série de outros fatores como a concentração de bichos grandes (que vivem em grupos) e não de pequenos; bichos pastadores de área aberta que são mais acessíveis; bichos grandes são preferidos por caça porque são mais vulneráveis, e não se recuperam rapidamente devido ao menor potencial reprodutivo e menor densidade populacional. Mas quem é mais vulnerável ao frio são os pequenos que tem maior superfície relativa. Então pra mim está bastante claro que foi o homem.
D. B.: Em 2005 teve um cientista que propôs a idéia de trazer os animais extintos dessa época de volta, o que ele chamou de re-wilding, ou reasselvajamento. Você acha que é possível de se fazer isso, trazer de volta os animais e repovoar ecossistemas que já nem existem mais?
F. F.: Quem propôs a idéia foi o Josh Donlan e eu acho isso complicado. Escrevi sobre isso na minha última crônica do O Eco criticando e escrevi uma cartinha que vai sair na revista Conservation Biology no próximo mês “metendo o pau” no re-wilding. Mas confesso que eu fico meio dividido. Fico com certo medo porque no fundo são espécies exóticas, espécies que não são nativas e quem trabalha com biologia da conservação tem uma longa história de estragos e desastres ecológicos causados por espécies exóticas. Então isso é uma coisa que deixa qualquer biólogo da conservação com três pés atrás. Agora por outro lado eu tenho essa nostalgia de olhar para o sistema atual e pensar que tudo aquilo é completamente desequilibrado. Muitos dos bichos grandes que deviam estar ali não estão, muitas interações ecológicas que deviam estar ali não estão. Então eu entendo perfeitamente a atração que uma pessoa possa sentir pela ideia de trazer megamamíferos de volta, tentar repovoar e restaurar alguns processos ecológicos. Também outra objeção é que não se sabe muito bem se muitos dos processos ecológicos ainda poderiam ser restaurados porque as próprias plantas não são as mesmas. Então eu vejo um monte de dificuldades, mas também consigo entender porque um cara sinta tanta atração por uma ideia dessa. Um dos co-autores do Donlan é o Paul Martin, que foi o cara que lançou a hipótese de que os bichos do Pleistoceno foram extintos pelo homem e o outro é o Michael Soulè, o criador da biologia da conservação. Então ele está apoiado por gente de peso, muito peso. Eu fico muito preocupado que não vá dar certo, mas eu adoraria se pudesse. Fico meio divido (risos).
D. B.: E existe alguma alternativa ao re-wilding?
F. F.: Tem. O que eu proponho na crônica do O ECO e na carta da Conservation Biology é uma alternativa menor. Ao invés de se investir tanto recurso e atenção no re-wilding, se deveria investir em refaunação. Tem aquele negócio da floresta vazia, floresta sem bicho dentro, exterminados por caça comercial e de subsistência, e aqui nos trópicos somos cheios de florestas vazias. Mata Atlântica é quase toda floresta vazia. Na Amazônia grandes áreas são de floresta vazia, então minha proposta é bem mais modesta, ou seja, é reconstruir a distribuição geográfica de bichos que não estão extintos. Porque quando se fala de, por exemplo, onça, ela não está extinta da Mata Atlântica. Existem talvez seis ou sete localidades que tenham onça. Então se vê pouquíssimos lugares com o animal e estados inteiros, como Santa Catarina e Paraná sem onça. No Rio Grande do Sul só tem onça no Turvo (Parque Estadual do Turvo), no Rio de Janeiro, só tem na Bocaina (Serra da Bocaina), então existem estados inteiros que não se tem onça ou só tem onça num lugar. Acho que uma proposta mais realista seria: vamos restaurar o máximo possível da distribuição geográfica passada, dos bichos que não estão extintos, introduzindo-os de volta em todos os lugares, ou seja, ao invés de pensar em trazer elefante da Ásia ou da África e introduzir na América, como inclusive já foi proposto para o Pantanal, reintroduzir queixada, cateto, onça, introduzir esses bichos de volta na distribuição geográfica onde tem mata, onde inclusive eles podem reconstruir muitos dos processos ecológicos, como dispersão de sementes, que foram perdidos.
D. B.: Para trazer de volta os animais já extintos, Donlan propõe o uso de fragmentos de gens desses animais. Temos observado atualmente o avanço da genética e da biologia molecular sobre diversas áreas da biologia como na botânica e na zoologia. Gostaríamos de saber se o senhor acha que o futuro da zoologia, da botânica e da construção de árvores filogenéticas será o uso da biologia molecular e genética ao invés de apenas caracteres morfológicos?
F. F.: Eu sou um pouco desconfiado da importância da genética no uso de reconstrução de bichos extintos. O que é bastante claro é que essa coisa de reconstrução com fragmentos de gens não funciona. Por exemplo, há um tempo teve um experimento com o tilacino, aquele lobo marsupial extinto em 1966 na Tasmânia, e saiu um artigo numa revista importante dizendo que conseguiram fazer os genes do tilacino reconstruído. Tem um geneticista lá na UFRJ, o Antônio Solé-Cava, que escreveu um artigo criticando esse lance do tilacino, dizendo que na verdade o que eles fizeram foi pegar uma sequência de 200 nucleotídeos de tilacino e introduzir no genoma do camundongo. Para diminuir o risco de rejeição eles escolheram a parte das sequências que são menos mutáveis, e como o tilacino e o camondongo são mamíferos e tem ancestrais comuns, provavelmente na sequência menos mutável numa sequência de 200 nucleotídeos, tinha 3 ou 4 que deviam diferir de um camondongo para um tilacino. O que os caras obtiveram: um camundongo com três ou quatro genes de tilacino entre 20 milhões de genes de camundongo. Vai me dizer que isso tem alguma coisa a ver com reconstruir um tilacino? Me desculpe (risos). O Solé fala que o grupo australiano tinha recebido um dinheiro astronômico para tentar reconstruir o tilacino. Como não deu nada certo, tomaram essa medida desesperada, que é forçação. Com relação a sistemática, a genética ajuda muito. A genética está revolucionando a sistemática e conhecimento de sistemática é fundamental para se fazer conservação, mas acho que existem prioridades maiores para se fazer conservação. Claro, a sistemática é muito importante, mas a gente precisa mudar o mundo rápido, e pra mudar o mundo rápido você tem que fazer reflorestamento, tem que fazer refaunação, ou seja, voltar com a fauna, tem que lidar com o aquecimento global, tem que impedir caça, as pessoas deixarem de achar que caça não importa e, enfim, precisa dessas coisas todas.
domingo, 4 de outubro de 2009
O livro dos mortos

Por Bruno Tinoco
Em A múmia, filme estralado por Brendan Fraser, um imprudente arqueólogo lê uma passagem do livro dos mortos e faz ressurgir uma criatura capaz de destruir a humanidade espalhando miséria e horror. O livro existe e foi escrito como uma coletânea de feitiços, fórmulas mágicas, orações, hinos e litanias do Antigo Egito, em
Diferentemente da lenda egípcia, ainda não existe um ser humano capaz de interpretar corretamente a linguagem do DNA. É como um novo idioma cujas preposições, advérbios e pronomes já nos são conhecidos, mas, as entrelinhas, ou as interpretações de duplo sentido, por exemplo, nós não sabemos julgar e deixamos passar o conteúdo da mensagem. Os grandes softwares de bioinformática ainda não são capazes de detectar sutis informações na sequência de DNA porque nós, por ignorância, ainda não estabelecemos critérios para que eles o detectem. Que segredos esta molécula pode nos informar quando soubermos compreender a mensagem por detrás da sequência de quatro letras? Devemos temer suas revelações? Claro que não. Devemos estar abertos ao que o DNA tem para nos contar, por mais que sua história fira o nosso “orgulho de Homo sapiens”. Para entender por que uma molécula é capaz de armazenar tanta informação histórica precisamos conhecer algumas particularidades dessa molécula.
A molécula de DNA é transmitida com singular fidelidade de geração
Imaginemos que cada espécie que passou por este planeta escreveu a sua história pessoal. Desta forma, podemos dizer que o DNA é um misterioso livro, ou melhor, uma grande biblioteca que acumulou diversos livros que contam a história de cada relação entre os seres vivos, cujo maior leitor é o geneticista. Desvendar o passado através da correta interpretação do DNA pode significar entender nossa própria origem; de onde viemos, como viemos e porque viemos. Ao contrário do filme de Hollywood, saber ler a sequência de DNA não trará miséria e horror, mas, sobretudo, nos fará enxergar o mundo sobre o posto que de fato nos pertence, e não sobre o qual nós, convenientemente, temos enxergado.
1. Existe uma classe de vírus que tem como material genético o RNA, e não o DNA, mas muito se discute onde os vírus deveriam ser incluídos dentro de uma classificação biológica.
2. A sistemática é a ciência dedicada a inventariar e descrever a biodiversidade e compreender as relações filogenéticas entre os organismos. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistem%C3%A1tica)
3. Em um sentido amplo, grupo monofilético refere-se a um conjunto de espécies que compartilham um ancestral comum. Também é usado para denominar um grupo que contém todos os descendentes de um ancestral comum. (http://www.qualibio.ufba.br/glo003.html)
4. Cladograma é uma representação gráfica que procura traduzir as relações de parentesco entre diferentes espécies ou grupos de espécies.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Bolas Foras

terça-feira, 8 de setembro de 2009
Os injustiçados

Por Gustavo Miranda. Todos nós sabemos quão incômoda é a picada de mosquitos (ou pernilongos, é tudo a mesma coisa). Incrivelmente, eles saem todos na mesma hora, que geralmente é o final da tarde, e nos atacam imperdoavelmente, não nos dando nenhuma chance de reação (até o aparecimento das raquetes elétricas). O comportamento desses dípteros surgiu muito antes de nós humanos aparecermos na história e há pouca coisa que possamos fazer para evitar esses ataques.
Os mosquitos que saem para picar são fêmeas que podem pertencer às famílias Culicidae (que inclui os gêneros Culex e Aedes) ou Psychodidae (que são dípteros do gênero Lutzomyia). Elas vão em busca de sangue não tendo muita preferência pela fonte, sendo um requisito essencial ser mamífero. Como atualmente nós somos um dos mamíferos mais abundantes na Terra e os indivíduos que invadiram o habitat delas, sobra para nós.
O ataque desses pequeninos, que ocorre de todos ao mesmo tempo e sempre no mesmo horário, é devido a seu ciclo circadiano. Esse ciclo é controlado por fatores endógenos, ou seja, genéticos, e por fatores exógenos, como a temperatura, a umidade e, principalmente, o sol. Os raios solares (sua presença ou ausência) são capazes de desencadear processos fisiológicos e comportamentais em animais e plantas como uma espécie de hormônio. Eis então que durante o processo evolutivo, os dípteros hematófagos desenvolveram o comportamento de saírem atrás de fontes de sangue durante o crepúsculo.
Florestas e pequenas matas, rios e lagos, são locais de refúgio e reprodução, respectivamente, para esses mosquitos. Como fomos invadindo esses lugares incriteriosamente, o local de refúgio passa a ser nossas casas, e a fonte de sangue passa a ser nós mesmo, como já exposto. No Rio de Janeiro nessa época do ano (final de inverno) quem predomina não são os Aedes, mas sim os Culex, mais especificamente as espécies Culex pipiens fatigans e Culex quinquefasciatus. Esses mosquitinhos possuem todas as características de um díptero hematófago supracitado, mas possui uma peculiaridade que o faz não ser tão querido: se reproduzem em lagoas com águas ricas em matéria orgânica, ou seja, rica em lixo e esgoto o que é comum nas lagoas do Rio de Janeiro.
Apesar de causar certo temor, o Culex quinquefasciatus, que é o responsável pela transmissão da filariose ou elefantíase, não é motivo de pânico no estado fluminense. Dados deste ano (2009) da Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde, mostram que a parasitose no Brasil tem distribuição urbana e focal, sendo detectada a infecção ativa do parasita, o verme nematóide Wuchereria bancrofti, somente em Recife e cidades de sua região metropolitana, Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Paulista.
Sai então num jornal de grande circulação que moradores do Recreio dos Bandeirantes pedem a abolição, a extinção, o extermínio, o fim permanente desses pequeninos animais na região. Está sendo feito, inclusive, um abaixo-assinado que será mandado para a prefeitura para ser tomadas as devidas providências. Essa é uma atitude realmente louvável, os cidadãos se organizando em prol de um bem para todos. Mas, por que, ao invés disso, eles não juntam assinaturas para pedir a limpeza da lagoa que está próxima a eles? Por que não se reúnem e juntam dinheiro para comprar mosquiteiros para as janelas de suas casas? Por que não pedem o fim do lançamento de esgoto na tal lagoa? Se os moradores da Amazônia se organizassem para pedir a matança de mosquitos (que lá tem de sobra), o Governo passaria o resto da história de nosso país tentando acabar com os bichinhos.
Parece que não há interesse em mexer com a emissão de lixo e esgoto no local, afinal de contas, é o lixo deles mesmo, se não for para lá, vai para onde? Apesar de ser insatisfatório para a maioria na região, a medida mais eficiente é diminuir o lançamento desses poluentes na tal lagoa (e em todas as outras do Estado) e se prevenir da melhor maneira possível com mosquiteiros, telas para janela e, é claro, com as infalíveis raquetes elétricas.
Referências:
Guia de Vigilância Epidemiológica e Eliminação da Filariose Linfática. Ministério da Saúde, 2009
http://oglobo.globo.com/rio/mat/2009/09/06/infestacao-de-pernilongos-atormenta-recreio-767506242.asp
Colaboração: Rafael Silva de Miranda, Laboratório de Acústica e Vibração/UFRJ
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
A “nova gripe”

Drogas que se prezam e realizam algum efeito passam por anos de pesquisa, depois mais alguns anos de teste
É causa de indignação o porquê de nunca ter se desenvolvido com tamanha rapidez uma vacina contra malária, por exemplo, que mata há muitos anos mais de um milhão de pessoas em todo o mundo. Não vai ser de espantar que mais cedo ou mais tarde se confirme a especulação de que a indústria farmacêutica nada mais é que uma grande máfia super-organizada, cheia de dinheiro e o pior, com apoio de governos e grandes organizações internacionais como a OMS (Organização Mundial de Saúde) que deveria lutar pelo bem estar e saúde da humanidade. Se isso realmente for verdade, essa gripe não passa de mais uma arma de toda essa gentalha para enriquecer cada vez mais seus donos e aqueles que os apóiam.
Por isso, antes de se render aos remédios contra qualquer tipo de gripe, realize as medidas preventivas básicas como lavar as mãos várias vezes ao dia, não compartilhar alimentos, copos, toalhas entre outros objetos pessoais e sempre cobrir a boca quando for tossir e o nariz quando for espirrar com a dobra do cotovelo evitando usar as mãos para não contaminar outras pessoas pelo toque. Caso contaminado por essa gripe ou qualquer outra e estando fora do grupo de risco que são mulheres grávidas e pessoas debilitadas, o remédio é repousar, se alimentar bem e beber bastante líquido.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Um discreto mistério

Todos nós sabemos que existe na face da Terra uma grande diversidade de seres vivos dos mais variados tipos: plantas, animais, vírus, bactérias e de repente alguma forma de vida que ainda não conhecemos. Dentre toda essa forma de vida a mais conspícua e numerosa é a dos artrópodes. Porém, os artrópodes não se limitam somente àqueles que conhecemos como os miriápodes [sínfilos, paurópodos, diplopodas (gongolos) e quilópodos (lacraias)], crustáceos, aracnídeos, insetos e outros mais. Eles integram o grupo dos artrópodes propriamente dito, mas este grupo está contido em um outro maior, chamado Panarthropoda. Além dos bichos habituais, este grupo também inclui em sua lista os Onycoforos e Tardigrados.
Certamente poucos já ouviram falar nesses animais a não ser aqueles que fazem biologia e resistem acordados às aulas de zoologia. Hoje trataremos sobre os incríveis tardígrados e quem sabe em um próximo post, falamos um pouco dos onicóforos.
Sim, eles são incríveis e vocês entenderão o porquê. Para quem não conhece, o tartígrado, também chamado de urso d’água, é um bicho microscópico que mede entre 0,05 e
Em uma expedição encontrou-se uma tumba com uma múmia em seu interior. Descuidadosamente, os pesquisadores deixaram a tumba destampada numa noite em que caiu uma torrencial chuva. No precário lugar havia uma goteira localizada logo à cima da inafortunada múmia. Resultado, seu sarcófago ficou inundado. Posteriormente, analisando o que sobrou da pobre múmia, observou-se que um pequeno animal mexia-se sobre uns pequenos musgos que se formaram dentro da tumba. Estudando-se o material descobriu-se que o bicho era um tardígrado. Mesmo depois de mais de 3.000 anos embalsamado junto com o faraó, o bicho, após entrar em contato com a água “reviveu”.
Apesar de gerar grande espanto isso é facilmente explicado pela Biologia. Os tardígrados são capazes de realizar dois tipos de dormência: a quiescência e a diapausa - que é a capacidade de reduzir seu metabolismo a quase zero quando submetidos a condições desfavoráveis voltando à vida quando em contato com água.
Após essa incrível descoberta, os pesquisadores ficaram entusiasmados com a resistência desses pequenos animais e os submeteram a alguns testes, entre eles:
- total vácuo (nada aconteceu)
- temperaturas próximas à 150ºC (um calorzinho à toa)
- baixas temperaturas como -273ºC (um friozinho nas pernas)
- gravidade zero (não sentiu nada)
- raios x (um brozeamento artificial)
- espaço sideral, sem gravidade, sem oxigênio e exposto a baixíssimas temperatura (nem é com ele)
Devido a essa incrível resistência não é surpreendente encontrar tardígrados no fundo do oceano (em locais tão profundos quanto 4km a baixo da superfície) e nas mais altas montanhas (com cerca de 6km de altura) sendo o único requisito necessário a presença de água.
Após essa pequena introdução ao mundo dos tardígrados, viemos propor a enquete ao lado questionando a possível origem desse pequeno mas resistente, estranho mas simpático, bonito porém feio animal.
sábado, 20 de junho de 2009
segunda-feira, 25 de maio de 2009
VII Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados

De uma forma ao mesmo tempo simples e aprofundada, o professor forneceu uma viagem ao tempo dos saurópodes dando informações sobre tamanho, comportamento, modos de locomoção e alimentação, sendo tudo, é claro, dentro das possibilidades de dados fornecidas pelos fósseis, ainda existindo muitas lacunas no conhecimento desses animais. Falou ainda como anda o desenvolvimento do estudo dos saurópodes no mundo dando ênfase a ativa participação de paleontólogos brasileiros. Em seu site é possível acessar seus artigos: http://www-personal.umich.edu/~wilsonja/JAW/Home.html. Para maiores informações e acompanhamento do Simpósio, visite o blog do evento: http://www.viisbpv.blogspot.com/.
Pensamentos e Pensadores
terça-feira, 14 de abril de 2009
Bate-papo com você, mas sem rumo...
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domingo, 12 de abril de 2009
Pensamentos e Pensadores
terça-feira, 31 de março de 2009
Cotidiano

Horas antes, na Avenida Presidente Castelo Branco, em frente à estação de metrô São Cristóvão, um consciente cidadão, ao visualizar um vazamento de esgoto, liga para CEDAE e informa que está havendo um vazamento de consideráveis proporções na avenida. A empresa, com toda sua eficiência, responde que o mais rápido possível irá solucionar o problema. A mesma contata com a Prefeitura que disponibiliza dezenas de homens para proteger a ação e organizar o trânsito. Em alguns instantes máquinas e homens chegam e isolam o local. Os funcionários, muito instruídos, fecham metade da avenida no sentido Zona Norte às cinco horas da tarde, já de início uma ação não muito inteligente. Então, a larga e movimentada avenida encontra-se com metade de suas pistas bloqueadas. E a outra metade? A outra metade é ponto para vários ônibus de várias linhas, ou seja, o trânsito não flui por esse lado. Resultado, mal eles chegaram pra iniciar o trabalho e o trânsito já estava congestionado.
Você está no seu aperto dentro do ônibus, morrendo de calor e de fome, cheio de dor nas costas por causa do peso da mochila quando de repente o ônibus pára e não anda mais ou então anda a passos lentos. Você espera que seja algum sinal fechado ou alguma coisa corriqueira. Até que você percebe a presença dos inúteis funcionários da prefeitura. Sim, eles são inúteis porque com o trânsito todo parado e nenhum carro com possibilidades de se movimentar, eles ficam fazendo sinal pra eles andarem e dando dicas pros motoristas, ou seja, esses indivíduos não indicam que boa coisa vem pela frente. Aquele maldito vazamento transformou essa parte da cidade num caos.
Depois de mais de meia hora andando a passos de cágado, uma pessoa pede para segurar sua mochila e você sem nem pensar duas vezes a entrega na dúvida dela mudar de idéia. Essa alma solidária só fez isso porque você está há um bom tempo socando a bolsa na face dela! De repente, um súbito milagre acontece: o ônibus dispara, sai correndo sem nenhum impedimento. Você se alegra novamente e pensa: -Ufa, finalmente vou chegar casa!
Uma regra: sempre que pensamos que uma coisa boa está acontecendo, ela para de acontecer. Seu ônibus continua a caminhar rumo à Zona Norte até alcançar a famigerada Rua 24 de Maio. Naturalmente essa data não nos remete a coisas boas. Nesse dia e mês em 1337 iniciou-se a Guerra dos Cem Anos, em 1886 ocorreu a Batalha de Tuiuti (Guerra do Paraguai) e, o pior de tudo, é o dia do vestibulando. Outra vez o ônibus reduz a velocidade e progressa lentamente pela longa e estreita rua. Dessa vez você desiste de toda sua programação e a única coisa que quer fazer ao chegar em casa, depois de quase duas horas, é comer e dormir.
Este é somente um exemplo da grande desordem urbana que a cidade do Rio de Janeiro oferece diariamente a seus cidadãos que devido a diversos fatores, são obrigados a morar longe de sua faculdade, escola ou trabalho. Que o nosso governante recém empossado tente de alguma maneira resolver esse caos a que somos submetidos. Que ele ao menos tente.
Gustavo Silva de Miranda é graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, e estagiário no Laboratório de Insetos Aquáticos – UNIRIO.
domingo, 29 de março de 2009
Madame Butterfly

As borboletas frequentemente são alvo de inspirações artísticas, científicas, filosóficas e até poéticas. É uma justa apologia em vista da incrível biologia desses animais, com os quais, aos poucos, vamos aprendendo.
Os integrantes do grupo das borboletas são organismos holometábolos, isto é, possuem metamorfose completa e desenvolvimento indireto. Em outras palavras, um afastamento drástico dos padrões corpóreos de desenvolvimento durante seu ciclo de vida.
O ciclo de vida desses organismos pode ser resumido em ovo, larva, pupa (ou crisálida) e indivíduo adulto (ou imago). No caso das borboletas, a larva é a lagarta, cuja morfologia vermiforme nem de longe lembra o delicado indivíduo adulto. A lagarta passa por alguns estágios de desenvolvimento antes de se tornar pupa, alimentando-se e crescendo. O alimento das larvas pode ser – e quase sempre é – completamente diferente daquele explorado pelos adultos, sendo as peças bucais da lagarta e da borboleta de tipos diferentes (mastigador e sugador, respectivamente), evitando, desta forma, a competição pelos mesmos recursos alimentares na natureza. Este inusitado fato para nossa compreensão pode ser o maior responsável pelo enorme sucesso deste grupo no planeta, já que 80% dos insetos possuem desenvolvimento holometábolo. Segundo Barnes (2005) o desenvolvimento da holometabolia teve um enorme significado adaptativo na evolução dos insetos, em parte por permitir que as larvas utilizem diferentes fontes de alimento, hábitats e estilos de vida quando comparadas aos adultos, dessa forma reduzindo ou eliminando a competição entre os estágios do ciclo de vida.
No estágio seguinte ao de lagarta, a pupa, as borboletas são capazes de nos surpreender ainda mais com uma transformação quase hollywoodiana. Dentro da pupa, a larva sofre metamorfose, durante a qual seus órgãos são destruídos e as estruturas dos adultos se desenvolvem novamente, tal qual a fênix da mitologia grega e egípcia. A transformação se dá devido à presença de células embrionárias de reserva, denominadas discos imaginais. As asas embrionárias desenvolvem-se internamente a partir dessas células, sendo que, nas lagartas, não encontramos precursores desta estrutura. As asas aparecem, desta forma, como uma novidade, assim que a borboleta emerge da pupa. A partir de então surge um dos mais belos e inspiradores animais da natureza.
Na condição de amantes da Biologia Molecular, fascina-nos o fato de todas essas transformações e adaptações à vida serem armazenadas dentro de um mesmo genoma! Uma única célula de uma borboleta contém todas as informações genéticas necessárias para geração de toda essa diversidade de formas durante seu ciclo de vida. É até plausível a discrepância observada durante o desenvolvimento desses animais se assumirmos a expressão diferencial de genes em momentos distintos do ciclo de vida. Isso não significa, porém, que somos ainda capazes de explicar todos os mecanismos pelos quais esses organismos passam, e, muito menos, que nosso ainda escasso conhecimento da Biologia Molecular é capaz de ofuscar magnífico resultado de milhões de anos de evolução.
A evolução está diretamente associada à mutação, que significa alteração na sequência do DNA, e, para a ciência, essas alterações que acarretam em organismos mutantes são geradas ao acaso. Dependendo de onde essa alteração ocorra no DNA, ela pode ser prejudicial, benéfica ou não causar qualquer implicação bioquímica ou fenotípica. Isso significa, pois, que durante milhões de anos as borboletas sofreram alterações em seu material genético que lhes possibilitaram uma infinidade de variações. Esta variabilidade está relacionada com estratégias de defesa contra a predação, como sabor desagradável e o mimetismo motivado pela pigmentação nas asas. De fato, pensar cientificamente não é tarefa simples, mas certamente é a maneira mais segura de tentar responder as questões da natureza.
Enquanto nós, seres humanos, destruímos nosso planeta sem qualquer consideração, as borboletas ainda cooperam para a biodiversidade do reino vegetal, pois são poderosos agentes polinizadores. E o que de melhor uma espécie pode fazer pela outra, além de contribuir para a manutenção da vida?
Diante de tudo isso, é incrível saber que a espécie humana convive neste planeta com espécies tão surpreendentes como a borboleta. Deveria ser uma honra para nós. Talvez por isso os grandes sábios de outrora tinham por hábito contemplar a natureza, como num ato de profundo respeito e admiração. Acho que eles compreendiam o que nós, até agora, não entendemos.
Bruno Tinoco Nunes é graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, e aluno de Iniciação Científica da Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ