quinta-feira, 5 de junho de 2014

Copa do Mundo com um golaço da ciência

Representação de uso do exoesqueleto controlado pela mente.
Imagem: Facebook Nicolelis
Um dos dias mais esperados do ano está chegando, a abertura da Copa do Mundo de Futebol no Brasil. A abertura é sempre marcada pelas animadas apresentações musicais, pelo impressionante show pirotécnico e pelas sincronizadas coreografias. Mas, dessa vez, quem vai roubar a cena nesse grande dia vai ser a ciência. No dia 12 de junho de 2014 o pontapé inicial da Copa do Mundo vai ser dado por uma pessoa paraplégica que vai levantar de sua cadeira de rodas, andar até uma bola e vai chutá-la!

Isso vai ser possível graças a um novo traje tecnológico ligado ao cérebro que tem a capacidade de captar as informações neuronais e transmiti-las para um exoesqueleto acoplado ao corpo. Eletrodos da espessura de fios de cabelo imersos num gel e posicionados na cabeça dos portadores do traje são os responsáveis pela captura dos sinais elétricos cerebrais. Esses sinais são transmitidos para um computador que os interpreta e passa a informação para as pernas robóticas. Essa nova vestimenta tem ainda a capacidade de trazer a sensação dos passos para o portador da máquina. Sensores na sola do pé vão dar a percepção de toque e vão trazer essa informação de volta a pessoa. Essa é a primeira tecnologia de interface homem-máquina capaz de levar informação motora e trazer informação tátil. Quem desenvolveu essa refinada, complexa e revolucionária tecnologia foi um cientista brasileiro, Miguel Nicolelis, considerado um dos cientistas mais influentes do mundo. Sem dúvidas esse está sendo o gol mais bonito do Brasil e a copa ainda nem começou!

Nicolelis e uma equipe de dezenas de cientistas de todo o mundo envolvidos no Projeto Andar de Novo (nome dada à audaciosa iniciativa) estão na fronteira da ciência, trazendo para a realidade aquilo que só se vê em histórias de ficção científica e que nunca se imaginou que fosse ser alcançado tão rápido. Esse traje traz nova esperança para pessoas com lesão na medula espinal e conduz a pesquisa em neurociência muitos passos a frente. Além disso, um cientista brasileiro encabeçando uma produção científica de tão alto nível e de extrema importância dá um orgulho muito grande e renova as esperanças na ciência nacional. Apesar de Nicolelis fazer sua pesquisa e lecionar fora do Brasil, na Universidade de Duke, o cientista possui importantes ações em sua pátria amada, como o Instituto Internacional de Neurociências de Natal. O instituto foi fundado e é liderado pelo pesquisador e tem como objetivo promover o crescimento da pesquisa científica de ponta no Nordeste do Brasil.
Que os pequenos passos que vão ser dados em 12 de junho sejam um enorme salto para o desenvolvimento de tecnologias que melhorem a vida daqueles que necessitam e que Nicolelis sirva de inspiração para novos cientistas brasucas.

Assista Nicolelis falando sobre o Projeto Andar de Novo:

Veja AQUI um dos testes com pessoas que vão participar da abertura da Copa do Mundo caminhando com o traje tecnológico.

sábado, 22 de março de 2014

Direto de Copenhagen: o povo, a cidade e a emissão de carbono

Vikings abordando uma praia.
Imagem: Me you UCN
Há dois meses deixei a cidade onde morava (o Rio de Janeiro) e vim passar uma temporada em Copenhagen. Uma mudança bastante radical pra quem nasceu em Porto Velho e nunca pensou que fosse tão longe quanto Rio Branco, no Acre. Mas a vida nos revela grandes surpresas e depois de sete anos na bela e conturbada capital do carnaval, vim parar em terras vikings.

Ainda não aprendi a usar espadas, saquear mosteiros, nem a adorar o deus Thor, mas já tive algumas experiências e gostaria de compartilhar as minhas primeiras impressões. A expectativa antes de vir para Copenhagen era de encontrar um povo frio, fechado e distante, foi isso o que sempre ouvi sobre os europeus. Pensei que ficaria perdido na rua porque ninguém me daria informação e completamente isolado dos nativos devido às diferenças culturais.

Ao sair no aeroporto peguei um táxi aonde o motorista confirmou todos os meus pré-conceitos. A única coisa que ele falou diferente de “o tempo está chuvoso” foi que conhecia Roberto Carlos (sim, o cantor). A minha amostra de nativos, entretanto, ainda estava muito pequena pra tirar alguma conclusão. Num outro táxi que peguei logo em seguida (nunca façam isso em Copenhagen, estou tendo que economizar dinheiro até hoje) o motorista era muito diferente. Puxou conversa, perguntou sobre o Brasil e me deu dicas sobre a cidade. Dois estilos completamente distintos em um curto espaço de tempo, mas pensei que o jeito descontraído desse último fosse algo particular e não natural do povo dinamarquês. Com o tempo percebi que os cidadãos de Copenhagen são realmente solícitos e até um pouco extrovertidos, conversam e puxam assunto. Contudo, pude perceber também que não é por conta dessa “abertura” que se deve esperar fazer um amigo dinamarquês. Eles interagem até certo ponto, mais do que isso já é invasão de privacidade.

Um ponto a favor da comunicação na maioria das situações é que quase todos falam inglês, principalmente os mais jovens. O idioma local (o dinamarquês) é muito diferente do português e do inglês o que torna impossível um diálogo na língua local. Graças a um grande estímulo do governo em internacionalizar o país, o inglês é ensinado nas escolas desde cedo e cursos universitários são oferecidos no idioma de Obama nas principais universidades. No dia a dia, quando numa conversa onde, além de dinamarqueses, há mais de um estrangeiro, os nativos fazem um esforço pra conversar em inglês numa tentativa de interagir com todos presentes. Agora se você for o único estrangeiro no papo, certamente você vai ficar deslocado, porque em pouco tempo eles começarão a falar a complexa língua nórdica e você vai ficar bioando. Eu estou enfrentando o desafio de aprender o dinamarquês (é oferecido curso grátis para estrangeiros!) e quem sabe um dia eu consigo entender o que as pessoas falam ao meu redor. Hvordan har du det?

A cidade das bicicletas. Foto: Visit Copenhagen
Copenhagen é a capital da Dinamarca e, apesar de ser o centro econômico e cultural do país, é uma cidade relativamente pequena; possui 77,20 km2 (tamanho equivalente ao dos municípios de Presidente Castelo Branco em SC ou de Marinopolis em SP) e conta com 1.230.728 habitantes, ou seja, é bem populosa. O principal meio de transporte da população é a bicicleta. Copenhagen é uma das cidades que possui a maior quantidade de bicicletas no mundo; são mais de 20.000 ciclistas circulando todos os dias. Existem muitas regras para pedalar, mas é só tomar um pouco de cuidado para não sofrer acidente ou levar uma multa (que são bem caras; são cobradas 700 coroas, aproximadamente 300 reais, dos ciclistas que são pegos andando com as luzes da bike apagadas de noite e 1000 coroas caso a polícia faça um flagrante do ciclista falando no celular enquanto pedala). Devido ao baixo índice de criminalidade, é possível andar de bicicleta em qualquer lugar e a qualquer hora sem riscos. Para mim, até agora, essa está sendo a melhor parte de viver aqui, a liberdade de ir e vir em qualquer momento sem medo de ser assaltado ou morto por bandidos ou pela polícia (algo infelizmente corriqueiro em muitas cidades brasileiras).

Copenhagen é considerada a cidade mais amiga do meio ambiente no mundo. Há um amplo projeto em andamento com o objetivo de cidade totalmente neutra de emissões carbono até 2025, com ações como melhoria do transporte público (estimulando as pessoas a não andarem de carro), aumento do número de ciclovias (atualmente a cidade já conta com mais de 400 quilômetros de vias para bicicletas), substituição de carvão por biomassa (utilizado para geração de eletricidade e aquecimento), dentre diversas outras medidas. Uma que merece destaque é fazendo eólica que foi construída em 2001 ao largo da costa de Copenhagen e é responsável por cerca de 4% da energia da cidade e 30% da energia do país. O objetivo do governo é fazer com que esse tipo de energia seja a fonte de 50% da energia utilizada na Dinamarca até 2020. Além de investimentos na matriz energética, vários anos de substancial suporte financeiro no tratamento de esgoto melhorou a qualidade da água nos portos de uma forma que hoje em dia é possível nadar na maioria deles (algo impensável nos portos brasileiros).

Parque eólico Middelgrunden, Copenhagen. Foto: Wikipedia
Copenhagen é um grande modelo a ser seguido em ações contra a poluição, contribuindo de forma exemplar para a diminuição da emissão de gases de efeito estufa. Está sendo uma ótima experiência, tanto pessoal quanto profissional, viver aqui e pretendo em outras postagens compartilhar mais informações. Vou falar muito de Copenhagen, da Dinamarca e da Europa, mas sempre fazendo um paralelo com o Brasil na esperança de um dia também termos sistemas sustentáveis eficientes e cidades seguras como essa e outras por aqui. Espero que gostem e que seja útil.


Vi ses!

domingo, 2 de março de 2014

Quadrinhos e zoologia parte 3

Histórias em quadrinhos ou gibis (HQs) fazem parte da vida de todos nós. Independente da idade, o fascínio por esse meio de comunicação sobrevive por gerações. Os gibis são muito mais do que histórias de fantasias criadas para entreter crianças. As HQs possuem muitos detalhes, alusões e ideias sofisticadas, e essas abordagens podem ser aproveitadas de diversas formas, inclusive na sala de aula como uma alternativa para despertar o interesse e prender a atenção dos alunos.

Nesse sentido, o professor da disciplina Zoologia de Artrópodos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Elidiomar Ribeiro da Silva, decidiu inovar na sua abordagem de ensino dos insetos, crustáceos, aracnídeos e miriápodes. Ele propõe aos alunos que escolham um personagem de HQ que tenha sido inspirado em algum artrópode e que façam uma análise das características presentes nesses heróis e vilões. Com isso, ele consegue que os alunos busquem informações sobre a morfologia e comportamento dos animais de uma maneira completamente descontraída.

Isso é feito há mais de dois anos pelo professor e já existe um extenso banco de dados que conta com mais de 150 personagens catalogados. Isso só nos universos DC e Marvel. Dentre os insetos, por exemplo, 93 personagens de composição inspirada em algum hexápodo já foram identificados. Uma análise mais detalhada sobre presença dos insetos nos quadrinhos foi apresentada pelo professor em colaboração com alunos no II Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro (II Entomorio) realizado em setembro de 2013.

Análises foram aplicadas para verificar se a diferença no número de personagens com inspiração em insetos entre às editoras DC e Marvel era significativa e se a diferença no número de heróis e vilões apresentava suporte estatístico. Em ambos os casos o resultado foi não significativo. A diferença do número de heróis e vilões não ser significante foi surpreendente, já que era esperado um número de vilões muito maior que o de heróis uma vez que os insetos costumam ser considerados “nocivos” pelo público em geral (o valor encontrado foi de 47 vilões contra 36 heróis; alguns personagens foram considerados de posicionamento variável, como a Angel (Avengers (Vol. 1) 264 (1986)) e a Jaqueta Amarela (New X-Men (Vol.1) 118 (2001)), e outros de posicionamento indefinido, como a Chrysalis (Justice League Quaterly 17 [1994])).

Quanto à classificação taxonômica, os personagens analisados foram baseados majoritariamente em ordens de Holometabola (Coleoptera, Diptera, Hymenoptera, Lepidoptera, Mecoptera, Megaloptera, Siphonaptera) em relação às demais (Blattaria, Ephemeroptera, Hemiptera, Isoptera, Mantodea, Odonata, Orthoptera, Zygentoma).

Elidiomar e seu grupo concluíram ainda que, apesar do grande número de personagens com inspração em insetos, pouquíssimos são aqueles de reconhecido destaque. Na DC os únicos que podem ser considerados do primeiro escalão são o Besouro Azul II (Ted Kord) e o Besouro Azul III (Jaime Reyes). Na Marvel, merecem destaque apenas o Homem-Formiga I (Hank Pym) e a Vespa (Janet van Dyne). Na sua grande maioria os personagens são secundários, com participações esporádicas ou pontuais.

Abaixo, alguns personagens e suas respectivas inspirações.


Personagem: Hellgrammita (Hellgrammite), Roderick Rose
Editora: DC
Posicionamento: Vilão
Inspiração: Lacrau
Classificação: Ordem Megaloptera
Características entomológicas no personagem: presença de antenas e exoesqueleto; ausência de voo e seis pernas.
Personagem: Mariposa Assassina (Killer Moth), Drury Walker
Editora: DC
Posicionamento: Vilão
Inspiração: Mariposa
Classificação: Ordem Lepidoptera
Características entomológicas no personagem: presença de voo, antenas, e exoesqueleto; ausência de seis pernas.

Personagem: Besouro azul (Blue Beetle), Jaime Reyes
Editora: DC
Posicionamento: Herói
Inspiração: Besouro
Classificação: Ordem Coeloptera
Características entomológicas no personagem:
presença de voo e exoesqueleto; ausência de antenas e seis pernas.



Personagem: Homem Formiga I (Ant-Man), Hank Pym
Editora: Marvel
Posicionamento: Herói
Inspiração: Formiga
Classificação: Ordem Hymenoptera, Família Formicidae
Características entomológicas no personagem: presença de antenas; ausência de seis pernas e exoesqueleto.

Personagem: Libélula (Dragonfly), Veronica Dultry
Editora: Marvel
Posicionamento: Vilão
Inspiração: Libélula ou lavadeira
Classificação: Ordem Odonata
Características entomológicas no personagem: presença de voo e antenas; ausência de seis pernas e exoesqueleto.
Personagem: Vespa (Wasp), Janet Van Dyne
Editora: Marvel
Posicionamento: Herói
Inspiração: Vespas
Classificação: Ordem Hymenoptera
Características entomológicas no personagem: presença de voo e antenas; ausência de seis pernas e exoesqueleto.




O grupo também desenvolveu outros trabalhos analisando a zoologia de um modo geral e os aracnídeos nos quadrinhos, trabalhos esses que também foram apresentados em congressos científicos. Mais informações aqui para a zoologia e aqui para os aracnídeos.

Fonte das fotos:

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Um pedido das estrelas: o Planetário Digital

A espiralada via láctea.
A Astronomia estuda, dentre diversos assuntos, a origem e evolução do universo e, apesar de ser uma das ciências mais antigas do mundo e de ser fascinante, o ensino de Astronomia no Brasil é feito de forma superficial e com base em concepções alternativas de professores e alunos. Essas concepção prévias do universo são muitas vezes corroboradas por conceitos errados presentes nos próprios livros didáticos e na fala dos docentes. Nos últimos anos, astrônomos de todo o Brasil têm somando grande esforço para mudar esse cenário.

Alguns erros conceituais comuns presentes nos livros e nos discursos dos professores são a atribuição das diferenças entre as estações do ano à distância da Terra em relação ao Sol (sabe-se que a causa principal das estações do ano se deve ao fato da variação de calor recebida pelos diferentes hemisférios da Terra em função das diferentes posições desses hemisférios em relação ao Sol ao longo de um ano completo), a interpretação das fases da Lua como sendo eclipses lunares semanais (quando na verdade essas fases ocorrem devido à Lua mudar a sua aparência em razão do seu movimento em torno da Terra, em relação ao Sol, que ilumina determinadas porções da Lua, ao orbitar o nosso planeta), a concepção da existência de estrelas entre os planetas do Sistema Solar (as estrelas estão a distâncias bem superiores as do Sol em relação à Terra), dentre diversos outros equívocos comuns nos livros escolares e na fala dos docentes. Em adição a isso, os livros e os mestres muitas vezes falham de forma exemplar no incentivo à observação prática de fenômenos astronômicos.

Para mudar essa realidade, astrônomos buscam meios de capacitar professores do ensino fundamental e médio e levar a ciência para os colégios como uma tentativa de tornar o assunto mais atrativo para as crianças e adolescentes e para os educadores. Nesse sentido, a Sociedade Astronômica Brasileira realiza desde 1998 a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) que busca capacitar os mestres e encorajar os alunos interessados no assunto a aprofundar seus conhecimentos através de uma competição.

A olimpíada é realizada com a aplicação de provas para diferentes níveis que vão desde o ensino fundamental até o ensino médio, além da realização de atividades práticas noturnas e diurnas, como a localização de constelações, a construção de um relógio solar e a comparação dos volumes entre a Terra e a Lua. No final da disputa, os alunos são premiados com medalhas e certificados de participação. Aqueles que se destacam são selecionados para participar da Olimpíada Internacional de Astronomia, que em 2014 vai acontecer no Quirguistão.

A OBA do próximo ano (2015) provavelmente vai contar com uma grande novidade, um PLANETÁRIO DIGITAL. Esse planetário será uma estrutura inflável itinerante que terá apresentações audiovisuais interativas e educativas. O principal objetivo é preparar professores e educar os jovens, fazendo com que o ato de olhar para o céu se torne rotineiro e a Astronomia um assunto familiar para todos. Para que isso se torne realidade, os organizadores da Olimpíada estão arrecadando fundos para a compra do equipamento e você pode ajudar diretamente fazendo uma doação da quantia que quiser e puder. É só acessar esse link:


Planetário digital. 
Ajudando essa causa você vai contribuir diretamente para um ensino básico melhor e mais completo para milhões de crianças e adolescentes no Brasil e vai estimular professores e futuros educadores a ensinarem de forma correta e mais entusiasmada essa disciplina tão fascinante. Ajude a mudar cara do ensino brasileiro.

Para entender porquê a OBA está fazendo essa vaquinha leia esse texto do blog Meio Bit e assista este vídeo do Pirulla.
Para ler mais sobre dificuldades interpretadas nos discursos de professores em relação ao ensino de Astronomia, clique aqui e aqui.
Para saber mais sobre erros conceituais comuns presentes em livros didáticos de ciências, clique aqui.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

[Zoologia em foco #1] O tamanduaí

Tamanduá bandeira e sua língua comprida.
Foto: Animais em destaque.
Os tamanduás são interessantes mamíferos que podem ser facilmente identificados por várias características, como a cabeça alongada, a boca desprovida de dentes e uma língua muito comprida e pegajosa. O mais famoso desses animais é o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758) que é conhecido devido a sua beleza e grande tamanho. Porém, dentro do grupo que inclui todas as espécies de tamaduás (a ordem Pilosa, subordem Vermilingua) existem outras três espécies de animais igualmente bonitos e interessantes, que são o tamanduaí (Cyclopes didactylus (Linneus, 1758)), o tamanduá-do-norte (Tamandua mexicana (Saussure, 1860); única espécie que não ocorre no Brasil) e o tamanduá-mirim ou tamanduá-de-colete (Tamandua tetradactyla (Linneus, 1758)).

O tamanduaí é um pequeno mamífero (possui cerca de 50 cm de comprimento) que habita áreas florestadas desde o México (região mais ao norte) até a Bolívia, passando pela Colômbia, Venezuela, Trinidad, Guiana, Suriname, Guiana Francesa e Brasil. Nesse link pode ser visualizado um mapa que mostra toda a área de distribuição da espécie. 
Tamanduaí em sua típica posição de defesa.
Foto: Pedro Freire Dias
No nordeste Brasileiro existe uma população que está separada das outras por mais de 1000 km. Como essa área sofre intenso desmatamento, esse grupo de indivíduos está sob séria ameaça de extinção. Já o restante das  populações de tamanduaí possui grande área de distribuição, principalmente na bacia amazônica, e havendo pouca preocupação quanto a seu risco de extinção. Infelizmente, em algumas áreas é comum encontrar esses animais mantidos em cativeiro e, uma vez encarcerados, esses animais morrem em poucos dias.

A biologia de populações selvagens é pouco conhecida. Sabe-se que os tamanduaís são animais noturnos, arborícolas, que os machos são solitários e que as fêmeas dão à luz a somente um filhote por ano. Machos e fêmeas são territorialistas; o território de uma fêmea não cruza com o de outra e o espaço do macho geralmente abrange o de duas ou três fêmeas, de tal forma que ele sempre tem fêmea(s) a sua disposição. 

O principal alimento dos Cyclopes didactylus são formigas e cupins, mas outros insetos, como abelhas, também podem entrar na sua dieta.  A cauda é preênsil e auxilia o animal a caminhar sobre galhos. Nas patas dianteira estão presente duas garras grandes e proeminentes que são utilizadas para abrir cascos de árvores, cupinzeiros e formigueiros em busca de alimento e para proteção quando se sentem ameaçados. 


Fonte e mais informações:
Superina, M., F.R. Miranda, & A.M. Abba (2010). The 2010 Anteater Red List Assessment. Edentata 11(2): 96-114.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Quadrinhos e zoologia parte 2

Quem acompanha o blog lembra que há alguns anos um trabalho muito interessante e inovador integrando a zoologia e o mundo das Histórias em Quadrinhos (HQs) foi apresentado num evento científico da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Esse projeto de investigar a associação de personagens das HQs com a zoologia continua a pleno vapor encabeçado pelo professor Elidiomar Ribeiro da Silva e anda rendendo muitos frutos. Outros trabalhos  abordando o mesmo tema foram apresentados em eventos regionais no Rio de Janeiro e nesse ano de 2014 o projeto foi levado para o XXX Congresso Brasileiro de Zoologia. Dessa vez o tema central foram os aracnídeos e o resumo enviado para o evento nacional foi intitulado “Os aracnídeos como inspiração para personagens dos universos DC e Marvel”. Como era de se esperar, o poster apresentado foi um sucesso e teve enorme repercussão. Como resultado, o ilustre professor Elídiomar foi contatado e concedeu uma excelente entrevista para o blog Gene Repórter, na qual fala sobre o trabalho exposto e a importância do uso de HQs no ensino de ciências. Vale a pena conferir!

Entrevista com um entomólogo - Elidiomar Silva
Prof. Dr. Elidiomar Ribeiro da Silva é entomólogo da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Recentemente, no XXX Congresso Brasileiro de Zoologia, seu grupo apresentou um trabalho inusitado no sisudo meio acadêmico: uma análise demográfica de personagens de quadrinhos de super-heróis das duas principais editoras do ramo (Marvel Comics e DC Comics) inspirados em aracnídeos. Foi o Luiz Bento, do Discutindo Ecologia, quem me chamou a atenção para o trabalho.

Abaixo reproduzo a íntegra da entrevista gentilmente concedida via email por Elidiomar Silva (e, ao fim, o resumo do trabalho).

Continue lendo aqui.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Extinto ou não extinto?

por Gustavo Miranda

Luto pela extinção de Neofelis nebulosa.
Fonte: Direito de Viver.
Há uma imagem circulando pela Internet que mostra o deslumbrante felino Neofelis nebulosa com uma declaração de luto devido à extinção da espécie. Essa notícia saiu na mídia em maio deste ano, mas só tive conhecimento recentemente. Dei uma procurada e descobri alguns detalhes que gostaria de expor aqui, pois na verdade, a espécie não está extinta.

Como todo grande felino, o leopardo-nebuloso tem uma ampla distribuição. Ele ocorre no Sudeste Asiático e no Himalaia (sul da China, Butão, Nepal, nordeste da Índia, Myanmar, Tailândia, Vietnam, Malásia, Camboja, Laos e Bangladesh).

Área de distribuição de Neofelis nebulosa. Fonte: WWF.
Há alguns anos especialistas em felinos analisaram populações de Neofelis nebulosa de diferentes localidades e consideraram que algumas das aglomerações do leopardo-nebuloso apresentavam diferenças morfológicas. Com isso, eles dividiram a espécie amplamente distribuída em três subespécies: N. nebulosa nebulosa, N. nebulosa brachyurus e N. nebulosa macrosceloides (uma quarta subespécie, N. nebulosa diardi, é atualmente considerada como uma espécie diferente (Neofelis diardi), como foi originalmente proposto por Cuvier (1823)).

A “espécie” extinta à qual a imagem que está circulando na Internet se refere é, na verdade, à subespécie N. nebulosa brachycephalus, que ocorre em Taiwan. Há biólogos que consideram que o nível taxonômico subespécie não existe, isso é, eles levam em conta somente a classificação até o nível de espécie. Se isso for considerado, pode-se dizer que "apenas" a população que ocorria em Taiwan foi extinta e não a espécie como um todo.

Independente do nível taxonômico, a extinção é lamentável e digna de pesar. O que está acontecendo com a Neofelis nebulosa (a fragmentação e destruição do seu habitat) é uma lástima e deve ser cessado imediatamente.  

Acredito que a mensagem na imagem tenha sido escrita com a intenção de impactar para chamar atenção e denunciar os terríveis impactos ambientais que o homem está causando ao meio ambiente. Contudo, é sempre bom levar em conta os detalhes para não obter e passar informações mutiladas.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Pensamentos e pensadores

"Algumas medidas são cruciais para nossa compreensão do universo. Qual é, por exemplo, o diâmetro médio da Terra? É 12,742 quilômetros. Quantas estrelas existem na Via Láctea? Aproximadamente 10^11. Quantos genes existem num vírus? São 10 (no fago φX174). Qual a massa de um elétron? É de 9,1x10^-28 gramas. E quantas espécies de organismos existem na Terra? Nós não sabemos, nem mesmo na mais aproximada ordem de grandeza."

E.O. Wilson [1][2][3], 1985, p. 21.



p.s.: apesar de relativamente antiga, a afirmação de Wilson não deixou de ser atual; contudo, dispomos de uma estimativa recente da diversidade na Terra: Mora et al, 2011. How many species are there on Earth and on the Ocean? Plos Biology, 9(8).

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